Secoya promove segunda etapa da formação de professores Yanomami
Entre os dias 25 de julho e 30 de agosto, a Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), realizou a 2ª Etapa do Curso de Magistério Intercultural Yanomami. O curso foi realizado no Centro Educacional Xapono Bicho Açú, na comunidade de mesmo nome, localizado no Rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro (a 630 quilômetros de Manaus). O curso é parte das atividades do Programa de Educação Escolar Diferenciada da instituição. A formação de professores indígenas é fruto de uma parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc-AM).
Atualmente, mais de 10 mil alunos estão matriculados na Educação Indígena, na rede pública de ensino do Amazonas, em 34 municípios que oferecem a Educação Escolar Indígena. De acordo com a Seduc, as regiões do Alto Solimões e Alto Rio Negro registram o maior número de alunos matriculados nesta modalidade de ensino, sendo 5 mil e 3,3mil estudantes em cada uma, respectivamente, o que demanda a formação de professores indígenas.
Participaram do curso de magistério 83 pessoas, incluindo 55 alunos, sendo 14 do rio Demeni, do município de Barcelos (a 400 quilômetros de Manaus) e 34 do Rio Marauiá, de Santa Isabel do Rio Negro, além de 7 alunos ouvintes), 2 professores Yanomami, 2 tradutores, 2 cozinheiras, 2 lenheiros, 3 acompanhantes, 8 crianças, 2 esposas (uma delas grávida), 1 marido, 2 assessoras de campo e 6 professores.
A abertura contou com a presença da liderança local, Daniel de Souza Goes, e do presidente da Associação Yanomami Kurikama, Otávio Ironasiteri Yanomami. Após as palavras das lideranças, os alunos tiveram a oportunidade de expressar suas avaliações quanto ao curso em geral.
Durante os mais de quarenta dias de trabalho em campo, foram feitos o preenchimento da ficha de matrícula dos alunos no curso, além da documentação fotográfica e a captura de fotos. Nesse processo, reflexões e formação técnica permitiram identificar a necessidade de que os próprios Yanomami liderem e estejam à frente da formação escolar indígena.
O objetivo é desenvolver o processo de formação bilíngue, intercultural e diferenciada de professores Yanomami para o magistério, contribuindo para a governança do povo e a construção da matriz educacional Yanomami, uma das principais bandeiras de atuação da Secoya junto a este povo.
De acordo com o coordenador da Secoya, Silvio Cavuscens, o curso desempenha um papel crucial na promoção da educação intercultural e na capacitação dos professores Yanomami, visando fortalecer a identidade e a autonomia da comunidade. “A diversidade de participantes reflete o comprometimento com a preservação da cultura e língua Yanomami, ao mesmo tempo em que se incorporam conhecimentos contemporâneos”, afirma.
Para a assistente social Mônica Hivana Pereira da Silva, a iniciativa é um passo importante em direção à valorização da educação e da cultura dos Yanomami, contribuindo para um futuro mais sustentável e colaborativo para o povo. A experiência intercultural, segundo ela, exige constante diálogo e adaptações, a fim de garantir a qualidade do ensino. “O comprometimento demonstrado por todos os envolvidos reforça a visão de um futuro mais sustentável e colaborativo para o povo Yanomami”. O curso contou ainda com o apoio da assessora da Secoya, Alfa de Jesus Martins.
A primeira formação para Professores Yanomami foi executada pela Secoya entre 2001 e 2014. O curso de Magistério Indígena teve 12 etapas realizadas nesse período, contemplando 21 componentes curriculares e 3.138 horas aplicadas.
Em 2022, em uma parceria com a Associação Yanomami Kurikama, que representa os indígenas do rio Marauiá, a Secoya construiu o Centro Educacional Xapono Bicho Açú, a fim de receber os alunos dos 22 xapono desta calha de rio e dos xapono do rio Demeni.
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