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Garimpeiros silenciam indígenas para não relatarem estupro e assassinato de menina Yanomami

Subtítulo: Polícia Federal e Ministério Público Federal voltaram de comitiva à aldeia Arakaçá sem encontrar provas, mas Condisi-YY relata coação por parte dos garimpeiros


Por: Leanderson Lima


Crédito: Bruno Kelly/ Amazônia Real



Manaus (AM) – Os garimpeiros que estupraram e mataram uma menina yanomami de 12 anos coagiram os indígenas a não falarem sobre o crime para as autoridades do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, Funai e Sesai. E ofereceram, em troca, 5 gramas de ouro. A denúncia é do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana (Condisi-YY), que também esteve na aldeia Arakaçá, no Território Indígena Yanomami, em Roraima, e relatou um diferente cenário, até agora, omitido pelas autoridades.


Em entrevista à Amazônia Real, o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari, contou que quando a sua equipe chegou ao local só havia fumaça da aldeia incendiada. Foram necessários 40 minutos no local para que os indígenas aparecessem e contassem sobre a coação sofrida, bem como, sobre o ouro oferecido em troca do silêncio. “Eles estavam com muito medo de falar. Eles foram forçados a aceitar (o ouro)”, revela Júnior.


O crime que chocou autoridades como a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, resultou ainda no desaparecimento da tia da menina de 12 anos e de uma criança de três anos, que foi atirado no rio pelos garimpeiros. Segundo apuração exclusiva da Amazônia Real, a menina Yanomami teve o corpo cremado como parte da tradição do povo, que inclusive já foi retratada pelo doutor em antropologia pela Université de Paris x-Nanterre, Bruce Albert. O pesquisador trabalha com os Yanomami do Brasil desde o ano de 1975.


Júnior conta que esteve no local da possível cremação da menina indígena. “Com certeza foi feito o ritual antes de a gente chegar. Os Yanomami já fizeram o ritual, existe uma marca de ritual, a queimação do corpo, possivelmente o corpo da adolescente”, conta.


De acordo com líderes indígenas, que se reuniram para analisar as imagens da comunidade queimada, este é um costume dos Yanomami após a morte de um ente querido. Quando isso acontece, a comunidade é queimada e todos que ali residiam partem para um novo local. “A comunidade estava queimada, ainda com fumaça. Não pousamos dentro da comunidade, pousamos no acampamento dos garimpeiros, onde os policiais colheram muitas informações”, relata Junior.


A última frase do presidente do Condisi-YY explica, em parte, as notas oficiais do MPF e da PF, divulgadas na quinta-feira (28), que afirmam não terem encontrado “indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento”. O MPF acrescentou, também em nota, que as “diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos”. Mas os dois órgãos não informaram nada sobre o paradeiro da criança, da tia e nem que haviam encontrado uma comunidade queimada.


Para o Condisi-YY, a estratégia dos garimpeiros foi utilizar os próprios indígenas para dificultar a investigação do crime, por parte do MPF e da PF. Segundo Júnior Hekurari, os indígenas chegaram a falar de crimes anteriores, mas sempre ressaltando que não sabiam nada sobre a morte da adolescente, muito menos sobre o desaparecimento da criança de três anos.



20 mil garimpeiros


O Território Yanomami, que este ano vai completar 30 anos de sua homologação, sofre com a invasão de aproximadamente 20 mil garimpeiros. “A gente recebe muitos relatos. Garimpeiros ameaçam os Yanomami, e eles estão sempre fortemente armados. E também os garimpeiros andam bêbados. Eles se matam em tiroteios entre eles. As comunidades que têm garimpo perto, não conseguem mais caçar, pescar, porque os peixes morreram. A caça se afastou. Não se consegue mais alimentação. A coisa fugiu do controle. Os garimpeiros são hoje os donos da terra. Eles fazem o que bem entender”, denuncia Hekurari, que cobra a continuidade das investigações.


A Amazônia Real tem denunciado o avanço da atividade ilegal sobre as terras dos Yanomami e até como facções criminosas como o PCC se infiltraram dentro do garimpo. A preocupação do presidente do Condisi-YY é para que esse crime não fique impune como em outras situações já vivenciadas naquela região. “A situação dos Yanomami é de abandono. Somos reféns. Não é a primeira vez que uma investigação não é concluída. A Terra Indígena Yanomami é distante. Não dá pra investigar em 30 minutos ou 1 hora, não dá pra concluir uma investigação. As autoridades precisam tirar os garimpeiros da Terra Indígena Yanomami”, finaliza.

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