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Mulheres Yanomami discutem práticas e saberes tradicionais no acompanhamento da gestação

Encontro promovido pelo Programa de Educação em Saúde da Secoya a partir de demanda das mulheres do rio Marauiá contou com parceria da FioCruz


Mais de 40 mulheres e homens Yanomami oriundos de 10 comunidades (xapono) diferentes, localizados no município de Santa Isabel do Rio Negro, participaram do II Encontro de mulheres Yanomami do Rio Marauiá, realizado entre os dias 25 e 30 de julho de 2021 no xapono do Balaio, dentro do território indígena.


O encontro, promovido pelo Programa de Educação em Saúde da Associação Serviço e Cooperação com Povo Yanomami (Secoya) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) compartilhou experiências e informações sobre as práticas e saberes tradicionais Yanomami no acompanhamento da gestação, parto e pós-parto.


De acordo com a enfermeira Sylvie Petter, coordenadora do Programa de Educação em Saúde da Secoya, o processo de escuta representou uma primeira etapa do diagnóstico das necessidades locais para a compreensão das práticas tradicionais relacionadas à gestação, parto e pós-parto, além da identificação dos atores e as atrizes envolvidas no cuidado a mulher gestante e parturiente.


“O encontro de mulheres do Rio Marauiá foi uma demanda das próprias comunidades, bem como da Associação Yanomami Kurikama, que identificamos ao longo do nosso trabalho com o povo Yanomami. No trabalho de fortalecimento da educação em saúde, abordamos a questão do parto e foi aí que percebemos o universo que se abriu para compartilharmos dos saberes e práticas próprias da cultura indígena. Agora, estamos identificando a ampliação de parcerias.

A antropóloga Fabiane Vinente dos Santos, pesquisadora da FioCruz, destaca que mesmo não tendo uma presença tão visível nas instâncias da política de acordo com a visão dos brancos, são as mulheres Yanomami que cultivam as roças, cuidam das crianças e regulam a vida nas unidades familiares.


“Nesse sentido, um encontro de mulheres Yanomami é uma forma de tornar mais visíveis as questões que permeiam este universo. Trata-se de uma atividade iniciada em 2017, quando foi realizada a I edição do encontro, uma demanda das próprias mulheres. O Encontro tem a participação dos homens e é uma oportunidade para eles ouvirem as questões do universo de suas companheiras, mães, filhas e netas. É um espaço voltado para a compreensão mútua”, explica.


A pesquisadora ressalta ainda que a partir da convivência com as mulheres yanomami pode perceber a fortaleza com que exercem seu papel dentro das comunidades. “O espaço proporcionado pelo encontro é importante para expressar as demandas delas e que certamente gerará frutos importantes no futuro próximo”, completou.



Construção de conhecimento


Desde o ano de 2017, a Secoya vem desenvolvendo ações específicas voltadas ao fortalecimento da inclusão das mulheres no processo organizativo Yanomami. Em 2018, foi realizado o curso temático “Saúde da mulher Yanomami e o consentimento esclarecido”, com o objetivo de propiciar informações sobre os direitos indígenas no âmbito do subsistema de saúde indígena e suas ações voltadas ao programa “Saúde da Mulher”.


“Na ocasião, abordamos ainda diversos aspectos relacionados à prevenção dos agravos decorrentes da gestação e foi a partir desta temática que as mulheres expressaram a vontade de aprofundar a questão dos saberes tradicionais no acompanhamento da gestação, do parto e pós-parto, bem como da prevenção das complicações”, explica Sylvie Petter.


O diálogo direto com as mulheres Yanomami foi iniciado dentro do Programa de Educação em Saúde da Secoya, um dos eixos de atuação da organização, que tem entre seus colaboradores, uma indígena Tukano. “Percebemos que elas apresentaram a vontade de aprofundar nas discussões a partir das contribuições que trouxemos com relatos de experiências de mulheres da região do Rio Negro”, afirmou a assessora de campo da Secoya, Maria Assunta, que também esteve presente no Encontro.


Nesse contexto foi elaborado o projeto do Encontro de mulheres Yanomami do Rio Marauiá. Após o diagnóstico inicial, está prevista uma capacitação de parteiras tradicionais Yanomami, caso seja identificada a demanda.

“Em longo prazo, essa capacitação pretende contribuir para que as parteiras tradicionais Yanomami sejam reconhecidas, tanto ao nível dos xapono, bem como por parte dos diversos atores da saúde alopática, além de permitir desenvolver ações de promoção da saúde e prevenir complicações relacionadas à gravidez, parto e pós-parto”, explicou Petter.


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