Povo Yanomami narrou, em documento, morte de seis crianças em 18 dias
Comunidade Yanomami enviou pedido de socorro a diferentes órgãos, alertando sobre aumento de óbitos por doenças tratáveis
Por: Metrópolis
Antes de serem tidos como vítimas de uma crise humanitária, em janeiro deste ano, após anúncio do governo federal, indígenas do povo Yanomami já haviam pedido ajuda meses antes a diferentes órgãos do Poder Executivo. Em ofício de 13 de setembro do ano passado, eles narram uma situação desesperadora: no mínimo seis crianças teriam morrido em menos de 18 dias — todas por doenças tratáveis.
“Um quadro de desassistência à saúde generalizada na região vem levando à morte indígenas por doenças que poderiam ser facilmente tratáveis, como síndromes respiratórias, diarreia e verminoses. Apenas nas últimas três semanas, seis crianças tiveram a morte confirmada. Duas morreram no hospital de Boa Vista, uma faleceu a caminho do hospital, a quarta foi resgatada e morreu na UBSI de Surucucu, e outra morreu na sua comunidade”, afirma o documento.
As mortes aconteceram entre 23 de agosto e 10 de setembro de 2022, portanto. Fora essas seis crianças mortas, outras três haviam morrido em julho por enfermidades parecidas, pneumonia e verminoses. A causa dessas complicações, como se sabe, foi o garimpo, e os Yanomamis deixaram isso claro no pedido de ajuda. A situação ficou pior por falta de remédios, afirma o documento.
Ainda em 2021, os Yanomamis denunciaram ao governo federal que garimpeiros estavam desviando remédios e vacinas do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) com ouro. “Segundo relatos de área, os postos de saúde não dispõe da quantidade de medicamentos necessária para o controle de verminoses, impossibilitando o tratamento e a prevenção de comunidades inteiras”, diz o documento de 2022.
O pedido de socorro foi feito pela Hutukara Associação Yanomami, entidade que representa o povo originário, e foi enviado à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), à Polícia Federal, ao Exército Brasileiro, ao Distrito Sanitário Especial Yanomami e Ye’kwana, ao Conselho Distrital de Sáude Indígena Yanomami e Ye’kwana e ao Ministério Público Federal (MPF).
Subnotificação de mortes
O apelo ao governo federal conta ainda que, apesar do alto número de mortes, há subnotificação dos óbitos. Isso acontece porque, com poucos médicos disponíveis para atender o povo indígena, não havia quem assinasse os fichas de óbito. Em outras situações, não estava presente alguém responsável no momento da morte. “Infelizmente, a situação real só poderá ser dimensionada quando for retomado o censo populacional de maneira precisa”, diz o texto.
Sensação de insegurança
Outra questão posta pelos indígenas é que muitos postos de saúde foram fechados pela sensação de insegurança causada pelo garimpo. Na Serra dos Surucucus seis postos foram abandonados; em Homoxi, o posto de saúde foi sequestrado pelos garimpeiros, que passaram a usar a pista de pouso que deveria servir o estado. No Xitei, um conflito armado fechou a unidade de saúde.
“Como se vê, a maioria dos postos de saúde foram fechados em razão da sensação de insegurança, que por sua vez é efeito direto do avanço do garimpo ilegal e do consequente aumento do fornecimento de armas e bebidas alcoólicas nos mesmos. O crescimento do garimpo na região incita um ciclo de violência e insegurança que leva ao aumento de conflitos sangrentos”, diz ainda o documento.
Comments