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Os princípios da escola Yanomami

A SECOYA acredita na proposta de uma Educação Indígena Diferenciada, Bilíngue e Intercultural, onde o diálogo entre as diferentes culturas possa contribuir para o desenvolvimento sustentável dos xapono e da vida Yanomami. Preocupamo-nos ainda em especificar os quatro conceitos que baseiam nossas ações:

Diferenciada: Entendemos o diferenciado como modo de rearticular o universo cultural e as formas de transmissão dos conhecimentos tradicionais dos Yanomami, integrando o processo de escolarização à comunidade, prezando pelo ensino de forma articulada com a vida em cada xapono;

Bilíngue: Fomentamos o uso da língua Yanomami quando presamos pela alfabetização na língua materna, contudo tanto esta quando a língua portuguesa fazem parte do cotidiano da escola (e do xapono) a partir da segunda turma, quando iniciam o aprendizado desta língua;

Intercultural: A escola é espaço para diálogo entre as variadas culturas, principalmente a Yanomami e o mundo dos napë, bem como é espaço para análise das relações estabelecidas entre o contato dessas duas culturas, em seus aspectos econômicos, políticos e sociais;

Comunitária: As Escolas Diferenciadas são conduzidas pelos próprios Yanomami de acordo com seus princípios e concepções, o que inclui liberdade de decisão quanto aos conceitos, espaços e momentos utilizados para educação escolarizada.

As Escolas Yanomami pautam-se em nas seguintes dinâmicas de funcionamento, sendo eles:

Princípio da Não-Obrigatoriedade: A escola Yanomami não é obrigatória. Esta atitude pretende respeitar o espírito de liberdade que gozam as crianças Yanomami.

Calendário diferenciado: O ritmo do trabalho deve respeitar o modo de viver do Yanomami, portanto não segue o calendário convencional, e sim orienta-se pelas atividades da comunidade (pesca, caça, festas, deslocamentos para visitar outras comunidades ou para a mata a procura de comida ou de outros produtos da floresta). Ela está ligada a eventos, na maioria dos casos imprevisíveis. As aulas têm duração máxima de 2 horas e meia para cada turma.

Conteúdo diferenciado: A fim de trabalhar a partir do próprio mundo dos Yanomami, todo o processo se realiza com livros bilíngues, tais como: “Yoahiwë” e a mitologia dos Yanomami como contada pelos velhos “Hapa të pë rë kuonowei” - estes livros foram elaborados pelo linguista Henri Ramirez nos anos de 1992 a 1994, quando conviveu com o povo Yanomami. Sendo que o conteúdo se dá em torno de temas e fatos do dia-a-dia (pesca, caça, festa, caçada coletiva, a roça, a comida, etc.).

Desse modo, nas escolas Yanomami com quem a Secoya atua, as linhas gerais da especificidade da educação escolar podem ser assim apontadas:

As turmas: a organização de uma turma obedece ao critério cognitivo e de proficiência em determinado conteúdo (ao invés do critério etário usado nas escolas seriadas). Por isso, numa mesma turma estudam crianças, jovens e adultos, mães e filhos, marido e esposa; desde que estejam num mesmo patamar de conhecimento sobre o conteúdo a ser ensinado/aprendido naquela turma.

Ritmo e tempos: a rotina da escola Yanomami está definida para um tempo de 2 horas diárias, funcionando durante os dias da semana e folgando no fim de semana. Antes da contratação via SEDUC-AM, as aulas obedeciam ao calendário de 04 dias de aula e 01 dia de folga, independente dos dias de semana. Quando as famílias mudam-se temporariamente para os xapono localizados floresta adentro ou nos acampamentos de verão, onde são desenvolvidas intensas atividades de caça e coleta, a escola também acompanha, para não interromper suas atividades pedagógicas de ensino aos alunos.

Conteúdos e métodos: o objeto de ensino-aprendizagem é primeiramente a língua Yanomami e depois a língua portuguesa. Isto é fundamental por evidenciar e colocar no seu devido patamar o processo de valorização sociocultural através do processo de alfabetização de uma língua oral, além de representar, através do domínio da língua portuguesa, um precioso instrumento de defesa em suas múltiplas relações com a sociedade envolvente. Em menor percentual estão estudos elementares de matemática, geografia e história, tendo-se o cuidado de utilizar a realidade Yanomami como referência prática ao estudo e aprendizagem dos conceitos.

Gestão do processo escolar: a escola opera concretamente a concepção de que “a escola é o xapono e o xapono é a escola”, tal é o grau de participação dos adultos e líderes do xapono nas decisões quanto a quem será aluno, quem será o professor, controle social das ações do professor, controle da freqüência dos alunos, objeto de ensino-aprendizagem, entre outros. Nenhuma decisão é tomada à revelia do xapono. Esta importância do coletivo na tomada de decisão reforça o papel da escola enquanto espaço a serviço da população.

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