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‘Respeitem a nossa forma de vida!’

No dia 5 de agosto, perdemos para a Covid-19, um dos nossos mais velhos, o cacique Aritana Yawalapiti, líder histórico da região do Alto Xingu. Homens e mulheres que lutam pelo reconhecimento e a garantia dos direitos humanos dos povos indígenas no Brasil e no mundo perdem uma referência forjada nas lutas travadas desde os 19 anos e honradas até a partida, aos 71 anos.


A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) e o Fórum de Educação e Saúde Indígena (FOREEIA-AM), manifestam-se em sentimento e solidariedade ao povo Yawalapiti e aos demais povos do Xingu pelo falecimento do cacique Aritana.


Lamentamos a perda do grande guerreiro para a pandemia da Covid-19 e para a política de morte que assola o Brasil. Responsabilizamos o Governo Federal pelo número elevado de mortes de indígenas na Amazônia. São 549 mortes e 16.161 casos confirmados de acordo com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB, dados de 3 de agosto). O cenário de desespero ao qual os indígenas foram submetidos expõe a insensibilidade, incompetência e falta de vontade política e humana do governo brasileiro para com estes povos e está exemplificado nos 16 vetos genocidas feitos pelo Presidente da República em artigos da lei nº 14.021/07/2020, aprovada pelo Congresso Nacional que define um conjunto de medidas preventivas à Covid-19 em comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais durante a pandemia. Vidas indígenas, como a de Aritana, poderiam ter sido salvas, com medidas e ações adequadas, competentes e responsavelmente conduzidas pelo governo do Brasil. Medidas que não estão, infelizmente, sendo adotadas.


Aritana deixa como legado aos indígenas e aos cidadãos não indígenas, a tenacidade da luta, a disposição ao diálogo e a nítida compreensão das razões desse lutar. Que estas sejam vivenciadas pelos líderes indígenas mais jovens e por todos que somam nessas lutas tão fundamentais no Brasil. Em março de 2019, possivelmente em uma das últimas entrevistas (ao portal De Olho nos Ruralistas), o líder do Alto Xingu falou da dívida histórica do governo para com os indígenas: “Tomaram tudo o que tínhamos, principalmente dos parentes de outras etnias: terra, madeira, riquezas minerais (...). Então, tem mais é que dar melhorias. E sem contrapartida. Queremos internet, televisão, dentista? Sim, precisamos! Mas que respeitem a nossa forma de vida”.


Que a voz de Aritana ecoe nas vozes indígenas em marcha, resilientes e conscientes da atitude de resistência às ameaças, de combate ao projeto de morte e das tentativas de usurpação da sua história por setores que atuam para soterrá-la.


VIDAS INDÍGENAS IMPORTAM!

Manaus, 6 de agosto de 2020

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