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Tráfico de drogas passa a integrar ataques históricos ao povo Yanomami em Roraima

Alvo de mineradores, empresários, políticos e garimpeiros desde a década de 1970, a Terra Indígena Yanomami possui, hoje, um número estimado em mais de 26 mil garimpeiros. O fato vem se agravando nos últimos anos. O ápice pode ser percebido com a participação de traficantes de drogas nos ataques sofridos por indígenas dentro da TI Yanomami. No último dia 10.05.21, a comunidade Palimiú foi atacada à queima roupa, por invasores em barcos que abriram fogo contra os indígenas, que revidaram. Os tiros dos ataques partiram de armamento

pesado como fuzil e metralhadoras, incomuns entre garimpeiros.


O interesse do tráfico de drogas na região, conforme aponta a agência Amazônia Real, começou com o crescimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Roraima a partir das unidades prisionais. Em 2017, a facção originária de São Paulo (SP) foi a responsável pelo massacre de 33 presos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. “O PCC cresceu muito e precisou se capitalizar, daí começaram a partir para os garimpos, onde tem o dinheiro fácil”, disse um garimpeiro ouvido pela Amazônia Real, que pediu para não ser identificado.


O Ministério Público do Estado de Roraima denunciou 44 membros do PCC por uma série de 12 ataques a prédios públicos, incluindo agências da Caixa Econômica Federal, delegacia e posto da Polícia Militar no Estado. A investigação registrou diálogos que discute a expansão da facção para regiões de garimpo em Roraima.


Um garimpeiro afirmou que membros da facção PCC atuam pelo rio baixo Uraricoera e Alto Parima. As duas regiões são as que produzem mais ouro, segundo ele.


Esta é a região onde o Exército brasileiro mantém o 4º Pelotão de Fronteira em Surucucu. O coordenador do Fórum de Roraima, Jailson Mesquita, afirmou à Amazônia Real, que a culpa pelo conflito na região é das organizações não-governamentais internacionais.


“O conflito não foi com facção. Essa situação foi provocada depois que dois aviões de ONGs chegaram na aldeia Palimiú, que é conhecida como ‘Americana’. Eles [os indígenas] tinham uma boa relação com os garimpeiros. Pediam armas para os garimpeiros,  cobraram 600 reais por cada canoa atravessar o rio. De uma hora para outra, o comportamento desses indígenas mudou. O conflito foi orquestrado pelas ONGs. Eles aumentaram a passagem das canoas para 2 mil reais. Depois eles [os indígenas] não aceitaram mais nada”, disse.


O Fórum de Roraima é composto por representantes de associações e cooperativas de garimpeiros e partidos políticos de extrema-direita e centro-direita, entre eles o Avante, da base do governo Bolsonaro.  


Após o ataque no dia 10.05.210, líderes indígenas afirmaram ter encontrado os corpos de duas crianças, uma de 1 e outra de 5 anos, no rio Uraricoera. A informação foi divulgada pelo vice- presidente da Hutukara associação Yanomami, Dário Kopenawa.


O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye´kuana (Considi-YY), Junior Hekurari, havia relatado que, durante o ataque, três garimpeiros morreram, cinco foram baleados e um Yanomami ficou ferido. Segundo ele, os corpos foram levados pelos garimpeiros para o acampamento onde eles trabalham.


A Polícia Federal não confirmou mortes alegando não ter encontrado corpos. No dia 31.05, a base do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de Maracá (RR), localizada à margem do rio Uraricoera e no caminho para a comunidade de Palimiú, foi invadida por garimpeiros armados.  O rio Uraricoera é usado pelo garimpo para escoar ouro, conforme aponta a Hutukara Associação Yanomami.


Agravamento

Em 14 de junho de 2020, há um ano, o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y’ekuana (Condisi-YY) denunciou conflito armado entre indígenas e garimpeiros dentro da TI Yanomami em Roraima, na comunidade Macabei, que também fica na região do Parima “A situação se agravou de tal forma que o caos social se instalou e a atividade criminosa caminha para sair do controle das forças de segurança”, alertou o Condisi-Y”.


Em março de 2020, o relatório Cicatrizes da Floresta, lançado pela Hutukara e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), mostrou a explosão do garimpo ilegal no Território Yanomami. De acordo com o levantamento, a atividade cresceu 30%, gerando uma área degradada de 2.400 hectares e pondo em risco grupos isolados, como os Moxihatëtëma. 


O território tem mais de 9,4 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e de Roraima. Neste ano, a Justiça Federal de Roraima determinou que a União retirasse os invasores do território sob pena de pagamento de multa de 1 milhão de reais. Até o momento, o governo federal ignorou o cumprimento da decisão.


Repercussão

No último dia 02.06, A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou os ataques de garimpeiros contra os Yanomami, dentro do território indígena, em Roraima. A ONU pediu ainda que as autoridades brasileiras investiguem e processem os responsáveis pelos ataques.


O pedido se entende aos ataques também sofridos por indígenas da Terra Indígena Munduruku, no Pará.


A ONU pontuou que os povos Yanomami e Munduruku são considerados "vulneráveis", além de estarem entre as comunidades mais afetadas pela presença da atividade de mineração ilegal na Amazônia.

A contaminação dos rios por mercúrio e degradação da floresta causada pelos garimpeiros também foi citada pela ONU como problemas que refletem na saúde dos Yanomami, principalmente a desnutrição de crianças, por conta da escassez de alimentos.


No dia 21.05.21, um bebê yanomami de cerca de um ano e peso de três quilos morreu com quadro de desnutrição. A informação é do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY) e ocorreu na comunidade Homoxi.


Na aldeia Maimasi, em Roraima, cuja imagem de uma menina de oito anos com 12,5 quilos ganhou o mundo no mês de maio, a comunidade vive um surto de malária, além de desnutrição e verminoses. O líder indígena Dario Kopenawa afirmou que o local não recebia visita de equipes de saúde há seis meses.


Relatório da Unicef divulgado em 2019 revelou que 81,2% das crianças yanomami menores de cinco anos tinham baixa estatura para a idade, 48,5% apresentavam baixo peso, e 67,8% estavam anêmicas.


A ONU informou também preocupação com o Projeto de Lei federal nº 1941 de 2020, que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas. Para a organização, a matéria proposta não protege o meio ambiente e nem a sociedade, além de omitir possíveis reparações aos povos indígenas.


Como consequência da fome, grupos de indígenas têm migrado para a cidade em busca de comida e do benefício do Governo Federal, que não paga o custo com deslocamento. No dia 31.05.21, uma criança indígena foi atropelada em Boa Vista, ao tentar atravessar a rua onde estava toda a sua família, abrigada embaixo de lona.


Cronologia:

12.06.20 – Conflito armado entre garimpeiros e indígenas denunciado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y’ekuana (Condisi-Y). Dois indígenas, de 20 a 24 anos, morreram

25.02.21 - Um garimpeiro foi morto a flechada e um indígena ferido durante um conflito às margens do rio Uraricoera, na comunidade Xirixana de Helepi, em Alto Alegre, Norte de Roraima.

10.05.21 – Ataque à queima-roupa aos indígenas Yanomami na comunidade Palimiú (RR).

11.05.21 – Agentes da Polícia Federal são recebidos com tiros no rio Uraricoera.

12.05.21 - A comunidade Palimiú sofre mais um ataque, horas depois que o Exército esteve na região. Segundo a Hutukara, cerca de 40 barcos com garimpeiros armados dispararam contra os indígenas, mas não houve feridos.

14.05.21 - Garimpeiros invadiram a comunidade à procura de indígenas escondidos em Palimiú, conforme relato da líder Leila Yanomami.

19.05.21 - Garimpeiros tentaram invadir a comunidade no 10º dia de tensão em Palimiú. Indígenas relataram que os invasores não conseguiram avançar pois perceberam a presença de um grupo de yanomami e retornaram às embarcações.

31.05.21 – Invasão da base do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de Maracá (RR), no rio Uraricoera


Fontes:

https://amazoniareal.com.br/como-o-pcc-se-infiltrou-nos-garimpos-em-roraima/

https://amazoniareal.com.br/saude-yanomami-denuncia-a-pf-conflito-entre-indigenas-e-

garimpeiros-em-roraima/

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/02/base-do-icmbio-invadida-por-bando-

armado-da-acesso-a-comunidade-na-terra-yanomami-alvo-de-ataques-de-garimpeiros.ghtml

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-

garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-17/8-anos-e-12-quilos-a-crianca-com-malaria-e-

desnutricao-que-simboliza-o-descaso-com-os-yanomami-no-brasil.html

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/01/indigenas-yanomami-improvisam-

acampamento-e-pedem-esmolas-as-margens-de-avenida-em-boa-vista.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/05/bebe-yanomami-morre-com-quadro-de-

desnutricao-em-roraima.shtml

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